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Geração Z bebe menos álcool que as anteriores, relação familiar é um dos motivos

Brasil registrou menor índice de uso abusivo de álcool entre jovens em sete anos

Mariana Thibes* Publicado em 01/05/2023, às 06h00

O consumo de álcool por menores traz diversos riscos à saúde
O consumo de álcool por menores traz diversos riscos à saúde

 Pesquisas realizadas ao redor do mundo têm surpreendido ao apontar uma diminuição do consumo de bebidas alcoólicas pela geração Z – jovens nascidos entre 1995 e 2010 (hoje, com idade de 12 a 28 anos). A boa notícia vem principalmente de países de alta renda, como Reino Unido, Austrália e Estados Unidos; mas no Brasil, uma análise da série histórica de 2010 a 2021, feita pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool a partir de dados do Ministério da Saúde, revelou que o consumo abusivo entre jovens de 18 a 24 anos chegou a 19,3%, menor índice desde 2015.

Enquanto nos países mais desenvolvidos, essa queda vem sendo observada desde os anos 2000, aqui no Brasil precisaremos aguardar novas pesquisas para confirmar se realmente é uma tendência e uma mudança mais profunda de comportamento ou se foi um evento temporário relacionado ao isolamento da pandemia. Até porque temos um contexto distinto em relação aos mais novos, com aumento da experimentação de bebida alcoólica entre estudantes do 9º ano do ensino fundamental.

De qualquer forma, o cenário é positivo e os dados promissores: um estudo realizado no Reino Unido mostrou que, em 2019, a geração com 16 a 25 anos de idade era a mais abstêmia — 26% deles não bebiam, em comparação com 15% entre a geração que mais bebe (55 a 74 anos de idade). Entre os norte-americanos, outro estudo indicou que o número de abstêmios em idade universitária aumentou de 20% para 28% em uma década.

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Mas o que estaria por trás desta diminuição de consumo da geração Z? A experimentação do álcool até então era vista, pelo menos nas culturas ocidentais, como um rito de passagem para a vida adulta e uma forma de se socializar e divertir, embora desaconselhado e reprovado para menores de 18 anos. Mas essa geração parece estar mudando seu comportamento, optando por não beber ou bebendo com menos frequência e em menor quantidade do que as anteriores.

A família tem um papel importante nesse processo. O álcool deixou de ser um tema tabu, e mudanças na estrutura familiar fizeram com que os adolescentes passassem a ter menos resistência em discutir com seus pais assuntos relacionados ao álcool, por meio de uma comunicação mais aberta e com maior aceitação aos limites impostos por seus responsáveis. Os pais, por sua vez, passaram a ter mais consciência dos efeitos nocivos do álcool para adolescentes, monitorando o consumo dos filhos e mudando seu próprio comportamento em relação ao álcool.

Além disso, os próprios jovens têm maior acesso à informação sobre os efeitos do álcool no organismo, o que pode instigar mais preocupação com a saúde física e mental, refletida em movimentos como o Mindiful Drinkers (“bebedores conscientes”) e Sober Curious (“interessados em estar sóbrios”) que estimulam a auto-observação por meio da pausa ou diminuição do consumo.

De todas essas razões, é preciso destacar o papel relevante que pais e responsáveis desempenham na prevenção do consumo precoce e nocivo de álcool entre crianças e adolescentes. Isso está em nossas mãos e se a nossa influência for positiva, poderemos vislumbrar um cenário mais animador no futuro. Porém, como diz o ditado, é preciso uma aldeia para se educar uma criança: educadores, profissionais de saúde e autoridades públicas também precisam estar conscientes e engajados nessa questão. Informe-se e converse sobre álcool. Se tiver alguma dúvida sobre esse tema, entre em contato pelo e-mail contato@cisa.org.br.

*Mariana Thibes é socióloga e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool. Possui doutorado em Sociologia pela USP e pós-doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP.