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A simplicidade da introdução alimentar, e seus efeitos para a vida!

Nutricionista ressalta que o papel dos pais na introdução alimentar é oferecer alimentos de qualidade, e, acima de tudo, tempo, afeto e paciência

Milana Dan* Publicado em 05/09/2023, às 06h00

Lembre-se sempre que os bebês aprendem a comer comendo!
Lembre-se sempre que os bebês aprendem a comer comendo!

Quem é pai ou mãe nessa vida, certamente já presenciou aquela cena tragicômica de seus filhos provando alimentos pela primeira vez. Olhinho piscando, caretas de todos os tipos, devoluções no prato etc. Neste momento, quem não sentiu um certo desespero, falta de preparo, algum receio ou incerteza, ou simplesmente se sentiu sobrecarregado(a)?

A verdade é que a introdução alimentar para os bebês é simples (quando não há complicações de saúde, claro!), pois essa simplicidade está na natureza da criança. Uma nutricionista que admiro muito sempre diz que o adulto é que complica a introdução alimentar inventando métodos, cursos e conceitos.

Se a introdução alimentar é realmente tão simples, por que tanta dificuldade e insegurança nesse período? De onde vem estes sentimentos tão complexos? E como podemos aliviar o processo?

Lembre-se sempre que os bebês aprendem a comer comendo!

O papel dos pais é oferecer alimentos de qualidade, e acima de tudo, disponibilizar tempo, afeto e paciência.

Como adultos, costumamos pensar em comida em termos de gosto e desgosto, e projetar estes pensamentos no bebê. Mas o bebê não funciona assim (não ainda!). Aceitar ou não o alimento está mais relacionado com o ambiente no momento da refeição, e com as emoções e sentimentos da criança, do que com o prato do dia. Quando o bebê ou criança não comem, eles estão comunicando que há algo de errado naquele momento. Como adultos, nossa responsabilidade é oferecer a comida adequada ao bebê, e criar um ambiente propício para ele, lanejando-se para que o momento da refeição se encaixe bem na rotina e disposição do bebê, e criando um ambiente leve (e por que não divertido?) durante as refeições.

Ao final da refeição, cuidado para não insistir pela  fatídica “última colherada”. As crianças, assim como os adultos, apresentam um mecanismo de autorregulação do apetite, desde os primeiros dias de vida - o bebê já sabe quando e quanto precisa mamar! Deixar um pouco de comida no prato pode assegurar que a criança está realmente satisfeita ao parar de comer (e não que apenas parou de comer porque acabou a comida!).

Vamos falar sobre as refeições em si - diversidade, equilíbrio e segurança!

Se a comida do bebê é preparada em casa ou comprada (muito comum atualmente), isso é um detalhe, desde que possamos garantir a diversidade, o equilíbrio e a segurança dos alimentos que são oferecidos! Sem culpa e com muito amor!

As refeições devem conter alimentos diversos, assim como variedade de cores, texturas e sabores. Sim, permita que seu filho possa experimentar o máximo de opções possíveis na alimentação, ainda que muitas dessas tenham sido ruins para você na sua infância, o que não significa que será na dele!

Também é importante que o bebê conheça de verdade a diversidade sendo ofertada, e por isso é essencial apresentar os alimentos separadinhos, não misturados, além de não peneirar ou liquidificar.

Quando eu penso em equilíbrio, ainda que olhando para os desafios da maternidade nos primeiros anos, sempre busco recomendar uma proporção adequada de todos os grupos alimentares, com a presença de carboidratos, proteínas animal e vegetal, e vegetais/hortaliças.

E o terceiro ponto, e não menos importante, é a questão da segurança. É preciso se cercar de todos os cuidados para garantir que a criança consuma alimentos seguros. Para isso, é primordial a garantia de higiene adequada, desde o momento do pré-preparo, estendendo-se ao momento em que as refeições são servidas, e chegando também no armazenamento, que deve ser sempre realizado em condições adequadas, de acordo com cada tipo de alimento/refeição.

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Ainda sobre segurança, é muito importante ler os rótulos na escolha de cada alimento. Muitas refeições, principalmente as prontas, comercializadas em grande escala, podem parecer saudáveis na foto, mas apenas lendo a lista de ingredientes, realmente, saberemos se são.

Ao montar o prato do seu filho, levando em consideração os itens acima, veja se ele está colorido! Na nutrição não tenha dúvida que quanto mais cor, melhor! Um prato sem diversidade de cor tende a conter menor número de grupos alimentares e menor variedade de vitaminas e minerais. Por isso, não tenha medo de abusar da criatividade e usar as cores para atrair seu filho à mesa.

Agora, e quando a teoria é boa, mas o pequeno não aceita a comida?

A seletividade alimentar é comum na infância, porém, antes de qualquer conclusão, é preciso entender cada criança individualmente e conhecer seu perfil, seu histórico, o ambiente em que vive e se existem quaisquer problemas associados a essa seletividade. Por isso, é sempre recomendada a manutenção de consultas periódicas com o pediatra.

Contudo, de maneira geral, toda criança (assim como qualquer ser humano) passa por um momento em que prefere esse ou aquele alimento, e rejeita certos alimentos que aceitava anteriormente. Isso pode ser totalmente normal.

No período inicial da introdução alimentar, é recomendado que se ofereça à criança o mesmo alimento diversas vezes, mesmo que ela o rejeite. O bebê precisa que seu cuidador tenha paciência, sensibilidade e tempo para dedicar a este processo.

Lembre-se:

- O bebê pode não querer a banana hoje, mas aceitá-la amanhã;

- O ambiente onde a criança se alimenta pode influenciar diretamente como ela come: se há barulho, companhia à mesa, cadeira adequada e confortável;

- Os bebês e crianças se alimentam melhor quando sua rotina está bem estabelecida (sono, fralda, horários) e estão bem-humorados (sem fome extrema que os deixa irritados, por exemplo).

Em muitos casos, após o período inicial da introdução alimentar, a seletividade pode refletir o desejo da criança de expressar suas preferências e exercitar sua independência. O exemplo dado pela família/pais e a persistência (dos pais/cuidadores) podem ser chaves para a mudança. Por isso, é recomendado que os cuidadores continuem a oferecer uma ampla variedade de alimentos e estimulem a criança a experimentar, mesmo que ela consuma pouco ou nada de certos alimentos.

Resumindo!

Já sabemos que uma boa nutrição é essencial para o adequado crescimento e desenvolvimento infantil, e que um aporte adequado de energia e de nutrientes garante que a criança cresça de maneira saudável. Porém, quando falamos de introdução alimentar e nutrição infantil de maneira geral, não estamos falando somente sobre uma boa nutrição, e sim sobre a formação de hábitos saudáveis, que  terão efeito positivo em sua saúde para a vida toda.

Alimentar uma criança  é simples. A responsabilidade do adulto é fornecer a ela uma alimentação equilibrada, diversa e segura, e disponibilizar seu tempo, afeto e paciência, para que a criança possa desenvolver hábitos saudáveis desde sempre e tirar o máximo de proveito deles, por toda a vida!

*MILANA DAN, nutricionista (mestrado e doutorado), formada 2005 (USP), ingressou na indústria de alimentos em 2010 e desde 2021 é sócia proprietária do PF da Nina (@pfdanina), empresa de alimentação infantil.