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No mês do meio ambiente, educação financeira pode ser aliada das escolas no incentivo ao comportamento sustentável

Ter hábitos sustentáveis desde a infância, com o apoio das escolas, incentiva o pensamento criativo para soluções dos desafios ambientais e financeiros

Natalia Alonso* Publicado em 17/06/2023, às 12h00

A educação financeira auxilia na conscientização sobre o ciclo de vida dos produtos
A educação financeira auxilia na conscientização sobre o ciclo de vida dos produtos

As discussões sobre a conservação dos recursos naturais, impulsionadas no Mês do Meio Ambiente, promovem um debate importante entre diversas entidades sociais, dentre elas as instituições de ensino básico. Como espaços de formação cidadã, as escolas possuem um papel fundamental na orientação aos estudantes sobre temas voltados à sustentabilidade, que podem ser desenvolvidos de maneira transversal, junto à educação financeira.

Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), temáticas como “educação financeira” e “educação para o consumo” devem ser contempladas em habilidades dos diferentes componentes curriculares. Para isso, o estudo da economia circular pode ser um importante aliado dos educadores, uma vez que repensar o consumo é uma lição que compete ao âmbito da educação financeira. Nesse sentido, as escolas precisam tratar esse tipo de assunto de forma contextualizada, transversal e interdisciplinar, relacionando-o a práticas concretas e ao cotidiano dos estudantes.

A reflexão sobre a economia circular estimula o pensamento crítico e ajuda a compreender os desafios ambientais e financeiros enfrentados pela sociedade atual. É necessário que os estudantes questionem o consumo excessivo e aprendam desde cedo a reduzir, reutilizar, reciclar e reparar produtos, evitando o desperdício. Ao refletir sobre o assunto, eles aprendem sobre planejamento financeiro, consumo e consumismo, o que pode incentivá-los a adotar comportamentos mais sustentáveis com o dinheiro.

É aí que entra a educação financeira, que auxilia na conscientização sobre o ciclo de vida dos produtos, sua durabilidade e qualidade, bem como a necessidade de considerar os impactos financeiros e ambientais ao fazer escolhas de consumo. De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos, publicado pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), foram gerados cerca de 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos no Brasil em 2022. Esse número equivale a uma pilha de 85 milhões de carros populares que, enfileirados, dariam a volta ao mundo 7,6 vezes.

Apesar de a quantidade de resíduo produzida em 2022 ter sido menor que a de 2021 – 82,5 milhões de toneladas –, o índice de reciclagem ainda é preocupante. Do total de resíduos gerados no último ano, somente 4% foram reciclados. Esses números alarmantes precisam mobilizar a sociedade e as escolas têm a competência de fazer com que crianças e jovens se vejam como parte dessa realidade e, portanto, sejam ativos nessa mudança.

A economia circular pode contribuir para o aprendizado dentro de vários componentes curriculares, como Biologia, Química, Geografia e História. Projetos de pesquisa sobre diferentes aspectos da economia e iniciativas de reutilização de materiais na comunidade onde os estudantes residem podem ser o primeiro passo para algo maior. Lembrando que dar autonomia aos jovens para promoverem ações e campanhas de conscientização, direcionadas à comunidade escolar ou ao público em geral, pode engajá-los ainda mais no tema.

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Outra atividade criativa nesse sentido são eventos de troca de livros, brinquedos ou roupas com os colegas, que podem fazer os estudantes repensarem a necessidade de constantemente comprar coisas novas e passarem a explorar opções mais sustentáveis. Visitas a centros de reciclagem ou a cooperativas de reutilização também podem somar nesse aprendizado, na medida em que proporcionam aos jovens uma experiência real sobre como a economia circular funciona na prática.

Além disso, projetos práticos de reutilização, em que transformam objetos descartados em novos produtos ou dão uma nova função a eles, são uma alternativa interessante. Isso pode envolver atividades como upcycling (transformação criativa de materiais descartados), confecção de artesanato sustentável ou criação de hortas comunitárias usando materiais reciclados.

Por fim, simulações, jogos educativos, debates e discussões também são válidos para trazer visibilidade ao tema, durante a aplicação de projetos coletivos e ações na comunidade. Tais ações podem refletir também dentro da escola, com vistas à economia de materiais, redução do uso de plástico e adoção de práticas mais sustentáveis.

Portanto, ao adquirir hábitos sustentáveis desde a infância, com o apoio da escola, as pessoas são incentivadas a pensarem de forma criativa e encontrar soluções para os desafios ambientais e financeiros. Assim, podem se tornar agentes de mudança, desenvolvendo ideias e projetos que promovam a economia circular e contribuam para um futuro melhor para todos nós.

*Natalia Alonso é gestora de projetos da BEĨ Educação