Mariana Kotscho
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Ansiedade e uso de antidepressivos por homens não têm impacto negativo na fertilização in vitro, diz estudo

Pesquisadores não encontraram nenhuma diferença nos resultados da fertilização in vitro por homens com ou sem ansiedade

Redação* Publicado em 01/11/2023, às 06h00

O procedimento de fertilidade pode ser demorado e induzir o estresse
O procedimento de fertilidade pode ser demorado e induzir o estresse

Casais tentantes são assim denominados quando estão na luta para ter um filho. Pode parecer exagero falar em “luta”, mas para muitos é realmente um campo de batalha, contra idade ou condições do próprio organismo, e isso pode gerar estresse. “A própria fertilização in vitro (FIV), que é um procedimento de fertilidade padrão-ouro, muitas vezes é demorada e indutora de estresse”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. Mas esse estresse, a ansiedade e até o uso de antidepressivos, em homens, não atrapalham o seu sucesso, segundo um estudo recente publicado em setembro no Human Reproduction. “As descobertas não revelam nenhuma correlação entre a ansiedade, independentemente do uso de antidepressivos, com os resultados da fertilização in vitro ou com a taxa de nascidos vivos”, explica o médico.

Apesar das preocupações anteriores sobre o impacto da medicação antidepressiva na fertilidade, o estudo mostrou que o tratamento não deve ser suspenso de homens que sofrem de ansiedade ou depressão. Os investigadores conduziram um estudo voluntário baseado em inquéritos, recolhendo respostas de 222 homens submetidos à fertilização in vitro entre setembro de 2018 e dezembro de 2022, utilizando o questionário da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão. Os participantes com pontuação igual ou superior a oito nas subseções da pesquisa foram considerados como tendo ansiedade ou depressão, respectivamente. O estudo avaliou a correlação entre essas condições de saúde mental e os resultados da fertilização in vitro e as taxas de nascidos vivos, bem como vários parâmetros de sêmen, ao mesmo tempo que examinou a prevalência de disfunção erétil e baixa libido entre a coorte. “Os resultados indicaram que 22,5% dos entrevistados experimentaram ansiedade e 6,5% experimentaram depressão, de acordo com as pontuações da escala. Não houve diferença notável nas taxas de nascidos vivos entre aqueles com e sem ansiedade, embora os homens com ansiedade tivessem, em média, contagens totais de espermatozoides móveis mais baixas durante a retirada dos óvulos”, destaca o médico especialista.

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Os cientistas também descobriram que os resultados da fertilização in vitro e as taxas de nascidos vivos não foram afetados pelo uso de antidepressivos. “Além disso, não houve achados estatisticamente significativos em relação à disfunção erétil ou baixa libido entre os grupos. Há um debate entre os especialistas em fertilidade sobre a prescrição de antidepressivos durante a fertilização in vitro devido aos potenciais impactos na fertilidade. No entanto, o próprio estresse pode alterar os hormônios, às vezes levando a uma condição chamada hipogonadismo hipogonadotrófico, em que o cérebro diz aos nossos órgãos reprodutivos para desligarem porque estamos muito estressados ​​para conceber", explica o Dr. Rodrigo. “Portanto, embora os medicamentos para ansiedade possam prejudicar a fertilidade, o estresse também pode. Dado que a fertilização in vitro é notoriamente estressante, as descobertas ressaltam a importância de priorizar a saúde mental do paciente durante o tratamento de fertilidade”, explica o médico.

No futuro, os pesquisadores pretendem avaliar os níveis hormonais dos pacientes ao longo do tratamento de fertilidade para entender melhor como o estresse afeta a fertilização in vitro e os resultados do parto. “Com base neste estudo, devemos encorajar os pacientes a buscar e continuar terapias apropriadas para ansiedade e depressão, sem a preocupação de que elas possam impactar negativamente seus resultados de fertilização in vitro", finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.