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Volta às aulas: mais do que a Lei, um novo olhar para as dificuldades de leitura pode ser determinante para tornar o retorno mais leve

DIretora do Instituto ABCD, que completa 14 anos em março, ressalta sobre a importância da inclusão de crianças com dificuldades nas escolas

Juliana Amorina* Publicado em 28/02/2023, às 06h00

Muitas crianças sofrem com transtornos de aprendizagem no Brasil
Muitas crianças sofrem com transtornos de aprendizagem no Brasil

Medo e insegurança são algumas emoções que podem se manifestar neste período que marca o retorno às aulas. Trata-se de um momento muito desafiador: os pequenos precisam se acostumar novamente às rotinas, ao novo professor e às mudanças naturais do novo ano escolar. Por isso, não se assuste, estes sentimentos são absolutamente normais e fazem parte do processo de adaptação para você e sua família.

Quando falamos da criança diagnosticada com transtorno específico da aprendizagem, como a dislexia, por exemplo, a escola pode ser um ambiente desafiador, muitas vezes, associado a dificuldades ou a situações desconfortáveis. Justamente por isso, vale desenvolver estratégias que reduzam os impactos gerados pelas mudanças, tornando o retorno às aulas mais prazeroso.

Para os pais, a primeira dica é organizar a rotina. A falta de foco pode impactar o aprendizado. Muitas vezes, reorganizar as atividades, priorizar momentos de estudo e evitar distrações são a receita para ajustar a vida escolar. Um outro passo importante é conversar abertamente com a criança, de forma franca, sem julgamentos. Procure acolher suas inseguranças e abra caminho para o diálogo. Assim, você cria um vínculo especial com seu filho, que será estimulado durante todo o ano letivo.

Do outro lado está a escola. Sua preparação para receber o aluno com dislexia exige dedicação e planejamento. Um currículo bem estruturado na área de alfabetização, baseado em evidências científicas, fará toda a diferença e não somente para alunos com dislexia, mas para toda a comunidade escolar.

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Legislação

Publicada em dezembro passado no Diário Oficial da União, a Lei nº 14.254/21, que contou com a participação ativa dos especialistas do Instituto ABCD, além de diversas organizações sociais e grupos de familiares, prevê o acompanhamento integral de estudantes com dislexia, Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outros transtornos da aprendizagem. De acordo com ela, escolas públicas e particulares devem garantir aos professores da educação básica, a capacitação adequada para identificar os primeiros sinais relacionados aos transtornos de aprendizagem, assim como para o atendimento educacional escolar dos estudantes.

A nova legislação retira oito milhões de brasileiros da condição de invisibilidade. Com ela, Governo, Parlamentares e toda a instituição pública reconhecem os direitos da pessoa com dislexia. Em fase de regulamentação, a Lei está, agora, sob a responsabilidade e coordenação dos Ministérios da Saúde e da Educação. Com base no texto da Lei, as áreas técnicas dos Ministérios devem descrever ações, estratégias e programas para que efetivamente os Estados e Municípios possam implementá-la da melhor forma. Ou seja, desenvolver um Plano Nacional para o Acompanhamento Integral para crianças e jovens com TDAH e Transtorno Específico de Aprendizagem (Dislexia) na educação básica.

Primeira Lei focada no tema, ela garante nossos direitos, nos ampara juridicamente, mas precisamos que as atitudes sejam diferenciadas. Os professores devem ter o apoio de formações continuadas para entender melhor sobre os transtornos específicos da aprendizagem. Sem esse respaldo não será possível avançarmos.

Mais do que isso, é fundamental que seja criada uma ponte entre a família, especialistas e a escola que permita uma troca de informações e o histórico do aluno. Assim, será possível conversar sobre as habilidades e dificuldades e traçar estratégias que permitam a aprendizagem das crianças. Lembre-se: manter uma relação de proximidade e confiança com a escola e com os professores pode ser o caminho para reduzir a insegurança e a ansiedade neste período de retorno às aulas.

* Juliana Amorina é diretora-presidente do Instituto ABCD