Mariana Kotscho
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Saúde mental: viver só se aprende vivendo

Carolina Zwarg fala sobre a importância de tratar da saúde mental dentro e fora do ambiente de trabalho

Carolina Zwarg* Publicado em 10/10/2023, às 20h00

Não existe uma fórmula pronta e os desafios são diários
Não existe uma fórmula pronta e os desafios são diários

Nos últimos anos, muitas empresas vêm abrindo espaço para discutir a importância do cuidado com a saúde emocional e olhar com mais empatia para as pessoas. Esse é um tema relevante que precisa ser sublinhado em todos os espaços: em casa, no trabalho, nas escolas, entre amigos, colegas, familiares, ou seja, entre os mais variados círculos de convivência.

A cada dia que passa, estamos nos conscientizando e colocando em pauta os debates sobre dores psíquicas, insatisfações, problemas, aflições, frustrações e, acima de tudo, atenção a qualquer alteração atípica de humor, comportamento ou quadro emocional. Não é sobre superestimar problemas corriqueiros, tampouco subestimar situações merecedoras de cuidado. Proponho aqui a tratativa na medida apropriada para questões que são humanas e, portanto, carecem de ser debatidas. 

Atualmente, mais e mais pessoas passaram a dialogar abertamente sobre temas que afligem a nossa mente, como ansiedade, depressão e demais questões psicológicas. Há muitos que dizem: estamos diante de uma curva ascendente do século 21. Tenho minhas dúvidas. Na verdade, acho que sempre houve esse cenário, mas por muito tempo, não mexíamos nessa “gaveta” psíquica por medo, tabu ou por subestimar os seus impactos sobre nossas vidas e, claro, nossa percepção sobre a felicidade.

Entretanto, o que mais me alardeou recentemente foi saber que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking global de ansiedade. Há 18,6 milhões de pessoas diagnosticadas com esse quadro, isto é, 9,3% da nossa população, praticamente o equivalente à cidade de São Paulo e sua região metropolitana. Tudo isso sem levar em conta as subnotificações. Para mim, esse índice nada mais me diz do que: estamos precisando rever uma série de hábitos.

Já a depressão acomete 15,5% dos brasileiros, de acordo com um estudo da mesma instituição. No recorte da América Latina, continuamos nessa infeliz liderança. No mundo todo, são mais de 300 milhões de indivíduos. É mais do que a população inteira do nosso país, que por sua vez tem dimensões continentais. Entre os fatores, alguns nem sempre podem ser antevistos, como disfunções hormonais e transtornos psiquiátricos correlatos. Contudo, há uma série de componentes sociais, tais como estresse, desilusões, históricos familiares e relações conflituosas, que podem ser tratados com ajuda profissional e até mesmo amenizados exponencialmente.

Sob a premissa de uma líder que trabalha com recursos humanos, penso que as companhias têm um papel importante nesse sentido.  Estimular que os colaboradores tenham equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, seja por meio de iniciativas de incentivo ao esporte, lazer, interação com os colegas, e uma exposição à vida lá fora. E se possível, indo um pouco além, com ações de serviço social e atendimento psicológicos - que são parte das nossas iniciativas fixas, contando também com o Programa Fique Bem, para dúvidas sociais e psicológicas, e o Programa Fique Bem Gestantes, para apoio à colaboradora durante toda a gestação.

No dia a dia de uma corporação, somos confrontados diariamente com tabelas de excel, apresentações, demandas, metas, expectativas e, ademais, convivemos com outras pessoas. É importante observar se o seu entorno corporativo está te fazendo bem, observando se a rotina de trabalho condiz com um cenário saudável. Ter abertura com a sua liderança direta e criar laços de parceria no trabalho, inclusive rede de apoio, são elementos que ajudam bastante na conquista de mais satisfação e autoconfiança no desempenho das nossas tarefas. Não podemos nos esquecer: passamos mais tempo no trabalho do que, muitas vezes, com nossos familiares. Logo, de um jeito ou de outro, é importante ter boas condições subjetivas de viver neste ambiente, seja presencial ou online.  

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Como líder, sempre me empenho a dar abertura ao meu time e aos demais colaboradores da empresa. E é muito bom quando a política de portas abertas faz parte da cultura, assim como ações para reforçar a importância do olhar para a saúde emocional, destacando a escuta e atitudes acolhedoras. Temos na companhia um programa de Saúde Integral, que tem como objetivo proporcionar mais bem-estar e felicidade para as nossas equipes e seus familiares por meio do equilíbrio entre três pilares da saúde:  mental, físico e financeiro. São atividades e conteúdos para ajudá-los na busca por uma vida mais saudável e por novos hábitos.

Não existe uma fórmula pronta e os desafios são diários. Somos humanos e nem sempre estamos preparados quando nos deparamos com as adversidades – e está tudo bem. Ninguém é forte o tempo todo, mas é importante buscar força e amparo, principalmente, quando estamos falando do nosso bem-estar. O mineiro Carlos Drummond de Andrade tem um livro de poemas – Amar se aprende amando – que eu adoro. Da mesma forma que o escritor acreditava nesse ideal, costumo dizer que viver só se aprende mesmo vivendo.

*Carolina Zwarg possui MBA em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é Diretora de Pessoas e Sustentabilidade da Porto