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O papel da amamentação no desenvolvimento dos bebês

Ter uma rede de apoio é essencial para o sucesso da amamentação

Dra. Clery Bernardi Gallacci* Publicado em 21/08/2023, às 06h00

Agosto Dourado reforça a luta pelo incentivo à amamentação
Agosto Dourado reforça a luta pelo incentivo à amamentação

Estudos científicos comprovam que o leite materno é o padrão ouro na nutrição da criança no início da vida. Podemos dizer que é sua primeira vacina e o reforço ideal para o desenvolvimento cerebral. Na composição do leite humano encontramos macro e micronutrientes, além de células bioativas protetoras das infecções, fatores anti-inflamatórios, hormônios que colaboram para o bom crescimento e outros componentes imunológicos.

O sucesso do “amamentar exclusivamente” não é só responsabilidade da mãe. A combinação do suporte da rede familiar, comunidade, profissionais da saúde e os vários níveis de comprometimento dos locais de trabalho e as leis governamentais que suportam a amamentação são essenciais para o início e a permanência do aleitamento materno nos primeiros meses de vida do bebê.

A composição do leite humano pode variar de acordo com o tempo da lactação, alimentação materna. Novos estudos mostram, ainda, que a hora do dia pode fazer a composição do leite variar. Ou seja, no período noturno, por exemplo, pode ter substâncias indutoras do sono do bebê.

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Proporcionalmente, o leite humano tem 50% de gordura em sua composição, o que irá colaborar para o crescimento e desenvolvimento cerebral, lembrando que o volume cerebral cresce intensamente no primeiro ano de vida da criança. Além disso, ao longo do tempo, a proporção equilibrada entre ômega 6 e ômega 3 encontrada no leite humano irá contribuir para uma distribuição mais adequada de gordura corporal na infância.

Nos primeiros dias de vida do bebê, as proteínas presentes em maior quantidade são responsáveis por sua ação imunológica, proporcionando, assim, uma defesa maior do recém-nascido contra infecções. Nos meses seguintes apresentam-se em menor quantidade se adequando às necessidades do crescimento ao longo dos primeiros meses de vida.

Os carboidratos compreendem cerca de 7% da composição de sólidos do leite humano e representam cerca de 40% de sua reserva calórica. E várias substâncias da composição do leite materno, como a lactose, as chamadas oligossacarídeos do leite humano (HMOs, na sigla em inglês) são carboidratos que colaboram com a microbiota desejada e alimentam as bactérias da flora normal intestinal.

Nos últimos anos, vários estudos têm relacionado esta microbiota adequada ao bom desenvolvimento cerebral, pulmonar e efeito protetor para a barreira intestinal. Outro efeito protetor do leite materno é a interação destes HMOs com as células imunes do neonato e, assim, influenciam positivamente ao evitar o desenvolvimento dos quadros de alergias e asma brônquica. Além disso, as vitaminas, minerais, enzimas e células vivas, que também compõe esse leite, contribuem para o equilíbrio nutricional adequado para o bebê.

Resumidamente, o leite humano apresenta uma infinidade de componentes cada qual com o seu papel. Como no exemplo de uma orquestra em que cada instrumento desempenha uma função específica e que, no seu todo, nos contempla com um resultado harmônico.

Por isso, por parte da sociedade, todos os esforços devem convergir com a finalidade de que esta prática tão natural e necessária possa se manter mesmo com o retorno da atividade profissional materna.

*Dra. Clery Bernardi Gallacci, pediatra, neonatologista e coordenadora dos Berçários Setoriaisdo Hospital e Maternidade Santa Joana