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Quatro anos de justiceiras

O projeto justiceiras foi criado para combater a violência contra a mulher

Gabriela Manssur* Publicado em 08/03/2024, às 06h00

O projeto justiceiras existe há 4 anos
O projeto justiceiras existe há 4 anos

Enfim, chegamos aos 4 anos do Projeto Justiceiras, o meu grande sonho de justiça social sendo materializado como um case de sucesso: efetivo, simples e humanizado.

Não são apenas 15.792 vítimas que romperam o ciclo da violência, são famílias que resgataram a esperança e a dignidade. É a sociedade conscientizada, educada, remexida, um “grito de socorro” rumo a tirarmos o Brasil da vergonhosa posição de 5º país do mundo que mais mata mulheres.

Brilhantemente, o Projeto Justiceiras é um catalisador de pessoas corajosas, técnicas e generosas que anseiam democratizar o pedido de ajuda da mulher em situação de violência, sem enfrentar a rota crítica da violência, sem revitimização, sem julgamento!

Nossas mais de 15.0000 voluntárias no Brasil e em 27 países no mundo são um elo forte e humano. Parabéns a todas essas mulheres que dedicam o seu tempo “bem mais precioso” para levantar outras mulheres. É magnífico e inspirador   a rede de atendimento e de acolhimento juntas e sincronizadas pró-mulher, funcionando a todo o vapor.

As vítimas acreditam no nosso coletivo, sim! Tendo em vista que 40% delas realizaram o seu primeiro pedido de ajuda conosco, 70,1% são casos de média e alta gravidade, 6.144 delas estão desempregadas, 7.001 delas sofreram violência em casa, 7.105 delas sofreram violência por parte do ex ou atual companheiro. (relatório Justiceiras em anexo)

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A maioria dessas mulheres travaram várias batalhas internas, sociais, estruturais e culturais, tanto para preencher o formulário de pedido de ajuda (sou uma vítima), quanto para romper o próprio ciclo da violência, e o que esses dados exemplificam? Sem educação, prevenção e eficácia das políticas públicas o aumento exponencial da violência contra as mulheres não diminuirá! Preciso repetir!

Por isso a importância do Projeto Justiceiras que é saúde, segurança e um recomeço para tantas pessoas, definitivamente, precisamos amplificar esse case de sucesso, reverberar as nossas ações para o mundo.

Uma mulher em situação de violência precisa de acolhimento, não julgamento e orientação, desse modo, podemos formar uma sociedade justa e consciente de que as mulheres não são objeto, tampouco propriedade de ninguém, esse resultado apenas acontecerá quando o machismo for genuinamente descaracterizado.

Afinal, prevenir e combater todos os tipos de violência contra as mulheres não deveria ser nem uma tema em discussão, algo tão embrionário, tão secundário que ninguém sabe muito bem o porquê acontece, mas que sempre tem e terá uma mulher próxima que já passou pela situação, infelizmente.

A maioria das nossas vítimas sofreram violência psicológica, 37,2% das quase 16.000 mulheres atendidas, e esse tipo de violência diz muito sobre onde a violência começa e dar passos largos até evoluir a um crime de feminicídio.

Ação é o maior legado do Projeto Justiceiras. São 15.792 feminicídios evitados! acolher, escutar, orientar e oferecer alternativas é o nosso trabalho! Juntas somos mais fortes! Quem salva uma, salva todas!

Era uma menina que tinha um sonho, que escutava os gritos da violência, e,  com mais de 20 anos dedicados à promoção da defesa dos direitos das mulheres, idealizou um projeto em união com mais de 15.000 parceiras, e elas juntas  salvaram milhares de vidas. Somos as justiceiras do Brasil!

“Lugar de mulher é onde ela quiser”

*Gabriela Manssur é Advogada Especialista na Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres